TEXTO BÁSICO
Texto básico > Demanda
de nutrientes pela cultura
1. Teores foliares de nutrientes considerados adequados para
a goiabeira
Em culturas perenes a análise foliar traz informações
imprescindíveis, permitindo, juntamente com a análise
de solo, um acompanhamento dos efeitos dos fertilizantes aplicados.
No caso específico da goiabeira, a época de amostragem
foliar é a do florescimento da cultura, o que permite, se
necessário, eventuais correções na adubação
que é realizada após esse período.
A amostragem de folha deve ser feita agrupando-se talhões
com características semelhantes quanto a cultivar, idade,
produtividade, manejo do pomar, em áreas com solos homogêneos.
As folhas-diagnose são as recém-maduras, correspondendo
ao 3o par a partir da extremidade do ramo. Assim, as folhas a serem
amostradas são específicas e coletadas em número
suficiente para possibilitar que a amostra represente com segurança
o estado nutricional das plantas, conforme as indicações
contidas na Tabela 1. No estado de São Paulo a amostragem
é realizada no período de pleno florescimento, nos
meses de setembro-outubro, variando porém com diversos fatores,
em especial com o início das chuvas ou com a época
da poda.
Tabela 1. Indicações para a amostragem de folhas
em goiabeira
|
Tipo de Folha |
Nº de pares de folhas por árvore |
Nº de árvores por talhão |
Época de amostragem |
|
3º par (com pecíolo) |
4 |
25 |
Pleno florescimento |
|
Fonte: Natale (1993); Natale et al. (1996); Natale
et al. (2002). |
Na Tabela 2 constam os teores foliares de nutrientes considerados
adequados para as cultivares Rica e Paluma de goiabeira, esta última
a mais plantada no Brasil.
Tabela 2. Teores de macro e micronutrientes considerados adequados
para a goiabeira a partir do 3o ano de idade, determinados em folhas
coletadas durante o período de pleno florescimento da cultura
|
Nutrientes |
cv. Rica |
cv. Paluma |
|
|
g kg -1 |
N |
22-26 |
20-23 |
P |
1,5-1,9 |
1,4-1,8 |
K |
17-20 |
14-17 |
Ca |
11-15 |
7-11 |
Mg |
2,5-3,5 |
2,5-3,5 |
|
mg kg -1 |
B |
20-25 |
20-25 |
Cu |
10-40 |
20-40 |
Fe |
50-150 |
60-90 |
Mn |
180-250 |
40-80 |
Zn |
25-35 |
25-35 |
|
Fonte: Natale et al. (1996); Natale et al. (2002) |
É sabido que o estádio fenológico do vegetal
é um dos fatores que interferem claramente nos teores de
nutrientes em determinados órgãos da planta. Assim,
em função de cada fenofase, existirá uma concentração
adequada de macro e micronutrientes. Desta forma, os estudos de
marcha de absorção objetivam conhecer cada estádio
fenológico, correlacionando-o com os nutrientes no órgão
amostrado. Através desses estudos é possível
predizer a época (ou épocas) de maior exigência
nutricional da planta. Apesar desta importância não
existem estudos de marcha de absorção para a goiabeira.
Há alguns fatores, inerentes ao sistema de produção
dessa fruteira e características da própria planta,
que poderiam explicar esta situação. Na fase de desenvolvimento
das mudas, a goiabeira é propagada por estaca herbácea
e, durante a fase de formação e produção,
um acondicionamento rigoroso da planta em recipientes, para realizar
esse tipo de estudo, poderia não reproduzir a situação
real de campo, visto que o sistema radicular da goiabeira é
agressivo, atingindo profundidades consideráveis no perfil
do solo.
2. Sintomas visuais de deficiência de nutrientes em goiabeira
Utilizando goiabeiras com seis meses de idade, cultivadas em solução
nutritiva de Hoagland & Arnon, através da
técnica da omissão de um nutriente, Accorsi et al.
(1960) descreveram os sintomas de deficiência de N, P, K,
Ca, Mg e S, os quais serão apresentados a seguir:
Nitrogênio
As folhas de plantas deficientes em nitrogênio apresentam
conformação normal e o limbo com coloração
citrina uniforme, em lugar do verde típico das folhas de
plantas testemunhas. A nervação é ligeiramente
amarelada e sem manchas. A face inferior das folhas apresenta coloração
verde menos intensa que a face superior.
Fósforo
A face superior do limbo exibe coloração escarlate,
que progride do ápice à base e das margens até
as vizinhanças da nervura principal, permanecendo verde apenas
na porção adjacente à nervura. No estádio
final toda a superfície do limbo torna-se roxa. Observando-se
a folha contra a luz, pode-se verificar que as nervuras secundárias
são claras (transparentes), ao passo que as vênulas
extremas, em forma de arcos, mostram-se ligeiramente arroxeadas.
A face inferior da lâmina nada de particular apresenta, a
não ser o fundo escuro proveniente da coloração
escarlate da face superior, quando examinada contra a luz; a conformação
da folha é normal.
Potássio
As plantas cultivadas em condições de carência
de potássio exibem nas folhas, numerosas manchas marrons,
pequeninas, aglomeradas, com forma e contorno variáveis.
Estas manchas distribuem-se pelo limbo, a partir dos bordos, em
direção à nervura principal, mais concentradas
na porção mediana superior do limbo, resultando um
aspecto pintalgado. Sobre a nervura principal, e em muitas secundárias,
há manchas menores. Com o progredir da carência, as
manchas se fundem, principalmente na periferia, formando manchas
maiores, mais escuras, indicando processo necrótico em andamento.
Pequenas áreas do limbo permanecem verdes. A face inferior
do limbo, em correspondência com as manchas da página
superior, mostrava uma coloração marrom-avermelhada.
As folhas ostentam uma coloração avermelhada.
Cálcio
As folhas de plantas deficientes em cálcio mostram bordos
de aparência crestadas, em toda a extensão, porém
acentuando-se a partir da base (onde o efeito é menor) em
direção ao ápice, a ponto de essa região
enrolar-se. Nesse mesmo sentido aumentava também a largura
da faixa crestada, sendo mais pronunciada, isto é, mais larga
na região apical. Dela se originam faixas marrons, estreitas,
que caminham para a nervura principal, permanecendo aproximadamente
eqüidistante das nervuras secundárias. Em conseqüência
destes sintomas o limbo,enrola-se no ápice e a nervura principal
e secundária apresentam-se bem escuras.
Magnésio
Folhas de plantas cultivadas com omissão de magnésio
apresentam, na página superior, duas séries de manchas
amarelas, paralelas à nervura principal, uma de cada lado;
cada mancha situa-se entre duas nervuras secundárias e é
limitada pela nervura principal. As séries começam
na base do limbo e terminam a pequena distância do ápice.
Além dessas manchas, ocorrem, ainda, numerosas outras marrons,
de tamanho, forma e contornos variáveis, as quais, às
vezes se fundem. Na página inferior a mesma sintomatologia
da superior, porém, as manchas citadas são menos nítidas.
A nervura principal é verde-claro.
Enxofre
A deficiência de enxofre se caracteriza pela ocorrência
de manchas necróticas que variam de forma, tamanho, contorno
e número, localizadas principalmente na porção
mediana inferior do limbo. Essas manchas são mais nítidas
quando se examina a folha contra a luz. Coloração
arroxeada em quase toda a extensão da nervura principal (exceção
dos extremos, nesta fase dos sintomas) e nas nervuras secundárias
(exceto as da região basal e apical do limbo). As áreas
internervais se apresentam com coloração verde citrina
uniforme. Na face inferior a lâmina foliar, além de
ser pouco mais clara que a superior, percebe-se manchas cloróticas,
embora pouco nítidas. Somente as nervuras secundárias
revelam um roxo mais claro que o da face superior. A nervura principal
apresenta coloração normal.
Nesta mesma linha de trabalho Rodriguez et al. (1967) determinaram
a composição química das folhas de goiabeira
deficientes, em um estudo em solução nutritiva, sendo
que na maioria dos casos a ausência do elemento na solução
resultou no mais baixo nível do elemento nas folhas, exceto
o Fe (Tabela 3).
Tabela 3. Composição química de folhas de
goiabeira aparentemente deficientes e afetadas pela omissão
de elementos na solução nutritiva
|
Tratamento |
N |
P |
K |
Ca |
Mg |
S |
Fe |
Mn |
|
|
g kg -1 |
mg kg -1 |
Completo |
29,6 |
2,8 |
28,8 |
12,7 |
2,6 |
2,7 |
117 |
228 |
-N |
11,5* |
2,4 |
28,9 |
17,9 |
6,3 |
- |
124 |
310 |
-P |
23,0 |
0,7* |
25,6 |
20,4 |
3,9 |
- |
111 |
458 |
-K |
24,0 |
0,2 |
2,3* |
26,0** |
8,4** |
2,7 |
136 |
480 |
-Ca |
26,0 |
0,2 |
29,4 |
4,3* |
7,1 |
2,6 |
121 |
620 |
-Mg |
26,0 |
0,2 |
28,2 |
1,6 |
2,0 |
2,4 |
156** |
388 |
-S |
26,8 |
0,3 |
30,2 |
7,7 |
2,7 |
- |
77* |
137 |
-Fe |
34,3** |
0,3** |
38,2** |
1,7 |
4,3 |
3,3 |
88 |
1007** |
-Mn |
24,1 |
0,2 |
25,9 |
2,3 |
4,6 |
3,4** |
128 |
103* |
|
**; * = assinalam, respectivamente, o maior e
o menor valor da conta |
Salvador et al. (1999), em um estudo com mudas de goiabeira em
solução nutritiva, objetivaram avaliar os efeitos
da omissão simples e combinada, dois a dois, de nutrientes,
estabelecida entre os elementos N, P, K e S, sobre a composição
química do terceiro par de folhas. Avaliaram, ainda, a tendência
de acúmulo de macro e micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn)
nas folhas, caules + ramos, e raízes de plantas mantidas
em solução nutritiva completa, durante 70 dias. A
ausência de um nutriente promoveu a redução
de sua concentração nas folhas, porém, não
produziu grandes alterações na concentração
dos demais macronutrientes, exceto para K e Ca no tratamento com
omissão de N. As folhas foram o principal órgão
armazenador de macronutrientes. Dos micronutrientes, cerca de 57%
do conteúdo de B e 65% do de Fe foram alocados nas folhas
e o restante dividido em proporções equivalentes entre
caules + ramos e raízes. Somente 23% do total do Cu extraído
foi armazenado nas folhas, enquanto 45% permaneceu nas raízes.
Para o desenvolvimento inicial da goiabeira, a necessidade de macronutrientes
obedeceu a ordem decrescente: N, K, Ca, S, Mg e P e a exigência
de micronutrientes, por sua vez, obedeceu a seguinte ordem decrescente:
Mn, Fe, Zn, B e Cu.
3. Quantidade de nutrientes exportados pelos frutos
A Tabela 4 apresenta resultados da exportação de
nutrientes pelos frutos da goiabeira (Natale, 1993). De modo geral,
pode-se verificar que a cultivar Rica apresentou extração
de macronutrientes na seguinte ordem: K>N>P>S>Mg=Ca
e de micronutrientes: Mn>Fe>Zn>Cu>B. A cultivar Paluma,
por sua vez, extraiu macronutrientes na ordem K>N>P>S=Mg>Ca
e micronutrientes: Zn>Mn=Fe>Cu>B (Tabela 4). Assim, nota-se
variação nos teores dos dois principais macronutrientes
nos frutos, com a cv. Rica apresentando 15,7 g kg -1 de K e 9,8 g
kg -1 de N na matéria seca, e a cv. Paluma valores mais baixos
12,4 g kg -1 de K e 8,6 g kg -1 de N, na matéria seca.
Assim, o conhecimento da composição química
mineral dos frutos proporciona subsídios, não só
para um programa de adubação e restituição
ao solo, como também para a manuntenção de
sua fertilidade.
Os valores de nutrientes exportados referem-se ao fruto inteiro
(polpa e miolo com sementes). Entretanto, num pomar produzindo 100
t ha -1, com rendimento da agroindústria de 95%, tem-se como
resíduo aproximadamente 5 t ha -1 de material fresco (27%
de umidade). Assim, Fernandes et al. (2002) estudaram a aplicação
deste subproduto da agroindústria processadora de goiaba
na fertilidade do solo. A análise química do resíduo
apresentou os seguintes teores (totais) de nutrientes (em g kg -1):
N=17,2; P=2,1; K=2,9; Ca=1,1 e Mg=0,9. Pelos resultados a aplicação
do resíduo de sementes (0 até 120 t ha -1 em matéria
fresca) aumentou a matéria orgânica (y=11,23+0,1680x,
R2=0,98**) e o potássio (y=1,15+0,0217x, R2=0,99**), com
reflexos na soma de bases e na CTC do solo. Extrapolando os dados
para uma aplicação de 60 t ha -1 deste resíduo
de sementes frescas (44 t peso seco), poderão ser disponibilizados
cerca de 127 kg de K e 64 kg de P, para a cultura no primeiro ano
após a aplicação. Além disso, devido
ao incremento da matéria orgânica do solo, haverá
nitrogênio disponível em função da mineralização.
Tabela 4. Extração de macro e micronutrientes por
frutos de goiabeira, cv. Rica e Paluma em áreas experimentais
do Estado de São Paulo (Jaboticabal e São Carlos).
|
|
Cultivar Rica |
Cultivar Paluma |
|
Nutrientes |
Matéria seca |
Matéria fresca |
Matéria seca |
Matéria fresca |
|
|
g kg -1 |
g t -1 |
kg ha -1 |
g kg -1 |
g t -1 |
kg ha -1 |
|
Macronutrientes |
|
N |
9,80 |
1353 |
66,8 |
8,6 |
1146 |
84,3 |
P |
1,20 |
166 |
8,3 |
0,9 |
121 |
8,9 |
K |
1,57 |
2167 |
107,1 |
12,4 |
1662 |
122,8 |
Ca |
0,80 |
110 |
5,4 |
0,7 |
94 |
6,9 |
Mg |
0,80 |
110 |
5,4 |
0,9 |
114 |
8,4 |
S |
1,10 |
152 |
7,5 |
0,9 |
114 |
8,4 |
|
Micronutrientes |
|
B |
6 |
0,83 |
41 |
5 |
0,67 |
50 |
Cu |
8 |
1,11 |
54 |
11 |
1,48 |
109 |
Fe |
15 |
2,07 |
98 |
14 |
1,88 |
139 |
Mn |
28 |
3,87 |
188 |
14 |
1,88 |
139 |
Zn |
13 |
1,73 |
84 |
15 |
1,95 |
144 |
|
Fonte: Adaptado de Natale (1993); Natale et al.
(2002). Para os cálculos considerou-se que: a matéria
seca dos frutos representou em média 13,8 e 13,4% da
matéria fresca, para as cultivares Rica e Paluma respectivamente.
A produção média de frutos foi de 49,420
e 73,640 t ha -1, para cultivar Rica e Paluma, respectivamente
(3o ano de produção). |
A retirada de nutrientes do pomar ocorre devido às colheitas,
através dos frutos, conforme comentado anteriormente e, também,
pelas operações de podas. De acordo com Natale (1997),
em pomares de goiabeiras adultas são comuns as podas drásticas,
que podem reduzir expressivamente a parte aérea (40-60%),
ou seja, cerca de 24,5 kg de material fresco por planta (7,8 kg
de folhas; 2 kg de ramos e 14,7 kg de galhos e frutos pequenos).
O autor estimou em goiabeiras (6 anos de idade) em fase plena de
produção (80 t/ha/ano), que a cada poda seriam extraídas
das plantas cerca de: N=7,4; P=0,6; K=5,9; Ca=6,5; Mg=1,8; S=1,4
kg ha -1 e, B=22; Cu=122; Fe=207; Mn=282; Zn=21 g ha -1, considerando-se
material vegetal com 85% de umidade e pomar com 285 plantas por
ha.
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