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Os nutrientes e a qualidade dos frutos do mamoeiro
A busca pela maximização de retorno
econômico da atividade agrícola depara-se, muitas vezes,
com o desafio de aumentar a produção sem afetar a
qualidade do produto final. Aumentos na produção,
proporcionados pelo emprego de fertilizantes, devem ser acompanhados
pelo aumento ou manutenção da qualidade dos frutos
produzidos. Atualmente, com a globalização dos mercados,
tem-se maior exigência para produtos agrícolas com
alta qualidade.
A interação entre a nutrição
de plantas e a qualidade dos frutos tem ganhado importância
em trabalhos experimentais com diversas culturas, dada a conhecida
melhoria das características físicas, e mesmo bioquímicas
do fruto, com reflexos diretos na relação custo/benefício
do produto final.
Marinho et al. (2001) estudaram em mamoeiro cv.
Improved Sunrise Solo Line 72/12, irrigado, doses de N (10, 20 e
30 g planta-1 mês-1), e duas fontes de nitrogênio (sulfato
de amônio e nitrato de amônio) sobre algumas características
qualitativas dos frutos. Iniciou-se a adubação 30
dias após o plantio das mudas. O aumento da dose de N, aplicado
na forma de nitrato de amônio, promoveu o incremento do número
de frutos, sem diminuir o teor de sólidos solúveis.
Quando a fonte de nitrogênio empregada foi o sulfato de amônio,
o aumento da dose de N, também promoveu o incremento do número
de frutos, entretanto foi observada uma redução linear
na porcentagem de sólidos solúveis totais. Além
disso, o nitrato aumentou o conteúdo de vitamina C dos frutos.
Viégas (1997) observou um aumento da produção
de frutos em função da elevação da adubação
nitrogenada, sem que houvesse queda na porcentagem de sólidos
solúveis totais, utilizando a uréia como fonte de
N. Reddy et al. (1986) observaram que a aplicação
de N no mamoeiro não diminuiu significativamente o teor de
sólidos solúveis dos frutos.
Luna & Caldas (1984) observaram que a adubação
crescente com uréia como fonte de N não alterou os
teores de sólidos solúveis totais.
Fernandes et al. (1990) verificaram uma redução
na porcentagem de sólidos solúveis na polpa do mamão
em função de aumentos na aplicação de
N; entretanto, as doses de P não afetaram esta variável.
Um outro aspecto da adubação nitrogenada
é a possibilidade de acumular altos níveis de nitratos
e nitritos nos frutos in natura, propiciando o aparecimento de doenças
como câncer (estômago e esôfago), além
de outras doenças em recém-nascidos. Isto pode ocorrer
em casos especiais nos quais são utilizadas elevadas doses
de nitrogênio em plantas com algum desbalanço nutricional.
Isso poderia afetar a metabolização completa do N
em compostos orgânicos e, assim, haveria acúmulo de
produtos não metabolizados (nitratos). Neste sentido, tem
aumentado o interesse na determinação da concentração
de nitratos em alimentos (Usher et al., citado por Fytianos &
Zarogiannis, 1999).
Vasconcellos et al. (2002) avaliaram 54 amostras
de mamão comercializado em Brasília, observando que
em 33% dos frutos não foi detectada a presença de
nitrato de sódio. Assim, concluíram, que apesar do
pequeno número de amostras, os níveis encontrados
apresentavam certa variação, porém foram considerados
valores baixos, não indicando risco toxicológico ao
consumidor.
Outro aspecto importante da nutrição
e qualidade de frutos, é o aumento da "vida de prateleira",
com ganhos durante o processo de distribuição e comercialização
do produto. O cálcio é o nutriente mais estudado,
visando a ampliação da vida pós-colheita dos
frutos em geral. A deficiência desse elemento leva a uma deterioração
acentuada das membranas, com alteração em sua arquitetura,
fluidez e permeabilidade à passagem de água (Poovaiah,
1986). Portanto, a simples aplicação de Ca ao fruto
pode adiar o amadurecimento e a senescência, devido a redução
da respiração, da evolução do etileno
e da perda de massa fresca, mantendo as qualidades organolépticas
dos frutos (Awad, 1993).
Aumentos no conteúdo de cálcio em
frutos atrasam a senescência, reduzem as desordens fisiológicas
durante o armazenamento (Bangerth & Dewey, 1972) e retardaram
o fenômeno denominado "amaciamento" no mamoeiro
(Qiu et al., 1995)
Em geral um teor adequado de Ca no fruto pode
ser obtido pelo fornecimento via solo ou aplicado diretamente ao
fruto por pulverização ou mesmo imersão em
solução (com ou sem vácuo). Vale ressaltar
os seguintes aspectos, no caso da aplicação via solo,
a fonte mais apropriada e de mais baixo custo é o calcário,
antes da implantação do pomar, uma vez que a planta
teria, durante todo o ciclo de desenvolvimento, uma quantidade disponível
de Ca suficiente para suprir constantemente suas exigências,
visto que o elemento é considerado imóvel na planta.
Para o sucesso da aplicação via pulverização
ou imersão, há necessidade de que o elemento seja
absorvido em quantidade suficiente, a fim de obter os benefícios
esperados. Para isto ocorrer, além da necessidade do conhecimento
básico da fisiologia do fruto em questão, a exemplo
do número de estômatos, deve-se atentar para o uso
de fontes de Ca altamente solúveis e, até, de mecanismos
que aumentem a velocidade de absorção, como físicos
(temperatura, vácuo) ou químicos (substâncias
estimulantes).
Assim, Calore et al. (2000) avaliaram a aplicação
de Ca, em frutos do mamoeiro, em solução (0 a 3% de
CaCl2), por imersão durante 1 h. Em seguida, os frutos foram
armazenados durante 15 dias (11oC e 85-90% UR), avaliando-se a cada
3 dias, algumas características físicas e tecnológicas
(perda de massa fresca, coloração, taxa respiratória,
textura, pH, ATT, SST, Ratio, teor de Ca na casca, e na polpa) dos
frutos. Os resultados indicaram que a aplicação de
Ca nos frutos do mamoeiro não afetou as variáveis
analisadas, exceto a cor da casca.
Marcellini et al. (2002) avaliaram a aplicação
de CaCl2 em mamão minimamente processado (grupo Hawai, variedade
Baixinho de Santa Amália). Pelos resultados, o tratamento
com cálcio não alterou os parâmetros de qualidade
sensorial (aparência, aroma, sabor, textura e impressão
global) após 4 dias de armazenamento a 10 °C. Assim,
novos estudos devem ser conduzidos buscando o prolongamento do período
de armazenamento e trabalhando-se com outras técnicas de
conservação aliadas refrigeração, que
garantam condições microbiológicas adequadas,
além de viabilidade econômica.
Quanto ao efeito da calagem na qualidade dos frutos,
inexistem resultados experimentais.
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